terça-feira, 31 de março de 2009

Dupla Sedução, por Carlos Antunes


Título Orginal:
Duplicity
Realização: Tony Gilroy
Argumento: Tony Gilroy
Elenco: Clive Owen, Julia Roberts, Tom Wilkinson e Paul Giamatti

Ao segundo filme, Tony Gilroy mostra que é, no fundamental, um argumentista evocador.
Se em Michael Clayton evocava Sidney Pollack e (de certa forma) Frank Capra, aqui evoca Hitchcock e o melhor filmes de Hitchcock feito por outro (roubo a citação popular sem vergonha nenhuma), Charade.


Tony Gilroy constroi uma trama de inesperada complexidade, cujas reviravoltas vão encaixando com a relação atribulada de Ray (Clive Owen) e Claire (Julia Roberts).
Ninguém acredita, no entanto, que essas reviravoltas não se revelem afinal uma erosão da sua própria grandeza, atraiçoando quem pensa tudo dominar.
O tom do filme assim o denuncia e afirma, revelando no final ser mais directo - e previsível, infelizmente - do que quer parecer.


O filme conta muito com a permanente provocação e química entre os dois protagonistas que têm a sua dose de charme a aplicar à tensão humorística da sua relação.
O que não conseguem sempre aplicar, sobretudo porque há algo nos flashbacks que explicam - demasiado cedo - a sua relação que lhes retira margem de manobra.
Saber menos seria melhor para convencer o espectador.
Mas quando são bons, são verdadeiramente bons, corrosivos e sedutores.


Só que o jogo de cintura e de charme dos protagonistas revela-se um pouco curto, mesmo um pouco conformado, pelo que há que dar o devido mérito aos secundários que, mesmo com o seu pouco tempo disponível, vão arrebatando mais do filme do que parecia ser possível.
Seja a contrução irritável e irritante do CEO de Paul Giamatti ou o êxtase inocente com que Carrie Preston desafia Julia Roberts, esses momentos resgatam-nos da ameaçadora monotonia para que o filme parece escorregar.


Se toda a sua trama intricada fosse, ao invés, levada com mais estilo e leveza ou, quem sabe, levado ao ponto de um screwball como Mr & Mrs Smith (o do Hitchcock, entenda-se!) tivéssemos um grande filme.
Assim, fica-se pelo entretenimento saudável e temporário que é.


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