domingo, 31 de outubro de 2010

O Eterno Solteirão, por Carlos Antunes


Título original: Solitary Man
Num ano em que tivemos Gordon Gekko de volta, a melhor interpretação de Michael Douglas está neste filme que terá passado despercebido.
Um filme pequeno, estreado para cumprir obrigações, mas que deveria ter direito à atenção que a maioria das outras 35 estreias do mês de Setembro não merecem.


O filme é uma ode atormentada à masculinidade envelhecida. O falhanço afogado em sexo com miúdas cada vez mais novas, uma crise de meia idade que não soube parar mesmo quando a idade já ia avança.
Michael Douglas é o filme, é o personagem brilhante que só se sabe afundar mais e mais, mas que nos leva a conceder-lhe um aplauso sentido pela dignidade que protege mesmo ao longo da linha descendente.
Mesmo quando não tem motivos para continuar a comportar-se como anteriormente, ele fá-lo porque lhe parece que é o papel que deve ser seu.
A filha e o neto, os poucos amigos que lhe restam, são todos vítimas de um homem a interpretar um papel que está convencido que tem de ser o seu.
Ele falhar porque é mais simples desapontar uma vez e desaparecer do que ser bem sucedido numa relação a longo prazo.
Mas a tolerância dessas pessoas é a rede que o leva a arriscar tanto assim.


Uma coisa que Michael Douglas sabe é que, embora ele seja o filme como o filme é dele, tem de dar espaço aos secundários para definirem os contornos menos polidos da história que o tem como centro. Sobretudo se os secundários têm o talento de De Vito e Sarandon.
Se não se dissipa tudo para lá da brilhante interpretação de Douglas é porque eles sabem ser óptimos na discrição, no apagamento.


Um caso em tudo similar ao de O Rei da Califórnia, um filme sem direito a aparato onde Michael Douglas sente a liberdade para transformar o papel que lhe cabe num deleite pessoal sobre a arte da interpretação.
Um caso que demonstra que, nas margens, está muito do melhor cinema actual.



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