sexta-feira, 22 de agosto de 2014

O Salão de Jimmy, por Carlos Antunes



Título original: Jimmy's Hall
Realização: 
Argumento: 
Elenco: 


As incursões de Ken Loach aos filmes de época não lhe são favoráveis, como aliás não lhe são favoráveis quaisquer desvios ao Realismo Social que ajudavam a catalogar os seus melhores filmes.
O contexto de Jimmy's Hall fará pensar de imediato em The Wind That Shakes the Barley, filme cujo único elogio que merecia era o da beleza dos planos.
Recordando somente os filmes de Loach que estrearam entre nós desde essa altura percee-se exactamente o quanto o seu interesse depende da fidelidade às questões sociais.
A par do do desinteresse do filme que lhe valeu uma Palma de Ouro, também o caos irreparável de Route Irish deixou muito a desejar.
Muito melhores são os seus filmes que agora quase se podem dizer "menores" - porque menos exigentes ao nível da produção - como A Parte dos Anjos e, especialmente, O Meu Amigo Eric.
O filme que agora estreia entre nós, como já deverão ter percebido, está no primeiro grupo, não por acaso todos comprometidos primariamente com um despertar de consciência Irlandesa em estruturas demasiado ousadas.
Ao invés de, como os melhores filmes, serem histórias muito simples ou de contornos quase patéticos onde o foco se cola aos personagens e não a uma grande ideia que o filme representa.
Por mais que se anuncie no início do filme que Jimmy's Hall se inspira na vida de Jimmy Gralton, esse não chega a ser uma personagem, apenas um conjunto de conceitos pouco integrados com o pano de fundo.
Fosse o filme como o seu título prenunciava, a história de um espaço concebido para o povo, então faria sentido que o activista representasse também o ideário por detrás do salão.
Só que o filme vacila entre os traços gerais da História e os traços individuais da vida daquele homem. Com os segundos a não influenciarem os primeiros de forma significativa.
O amor perdido e a militância comunista daquele homem não afirmam nada assertativo sobre o que é uma vontade colectiva de criar um espaço ao serviço de uma comunidade sem outras oportunidades.
Manter a narrativa tão colada a Jimmy impede que se chegue a interrogar o impacto daquele local nos anseios da população - e na população jovem sem trabalho nem perspectivas de futuro - e nas acções de reivindicação que viessem a ter no futuro.
Quando os jovens o abordam a pedir o regresso do salão eles fazem-no dando grande enfoque aos bailes. Bailes que não estejam sob domínio da Igreja e que lhes permita maior intimidade.
Um desejo de liberdade ou um desejo adolescente? Uma confusão dos dois como motivação dos jovens ou o confronto das duas ideias entre os adultos (professores) e os seus alunos?
O argumento não tem vontade ou coragem para mais do que debitar ideias simpáticas acerca daquele povo oprimido e prefere sempre o esquematismo dos eventos de uma vida individual à complexidade de uma vida comunitária.
Estando o realizado mais focado em colcoar-se ao serviço de si mesmo - e da opinião que dele se faz - as limitações do argumento não parecem colocar-lhe problemas.
Creio que o problema de Ken Loach ao trabalhar histórias fora do âmbito restrito do Realismo Social é o facto de abordar o filme para mostrar que tem capacidades técnicas que fazem dele um "Realizador" e não apenas um realizador daquele género que passa por pouco aprimorado ao importar-se mais com elementos não visuais.
Tem-las mas usa-as de forma pouco precisa ou mesmo indevida.
A cena Hollywoodesca da dança entre os dois "quase amantes" neste filme, ilumidada por uma Lua de intensidade excessiva, é bela mas não pertence a este filme.
Evoque-se o caso de um seu par, Mike Leigh, para se ver que quando este se dedicou a um filme de época - Vera Drake, já que a genial teatralidade de Topsy-Turvy é um caso à parte - ele não abdicou da sua matriz, transpô-la para os anos de 1950 com os belíssimos resultados que se conhecem.
Ken Loach nem sempre abordou assim filmes como este, mas parece ter sofrido uma regressão enquanto autor que o leva às limitações de abordagem que agora vemos.
Não sendo desprezável, Jimmy's Hall também não afirma qualquer pertinência para que seja visto fora do país a que diz respeito.




Sem comentários:

Enviar um comentário