domingo, 17 de agosto de 2014

Tar, por Carlos Antunes



Título original: Tar


O elenco rico será a justificação para a estreia deste filme entre nós, resultado de um esforço de estudantes de cinema em torno da obra de um poeta que pouco dirá ao público português.
Elenco que é um dos primeiros empecilhos do filme. Não por falta de talento ou empenho mas por tipificação dos papéis.
Mila Kunis como feliz figura romântica encobrindo a tragédia pessoal que parece atrair apesar do seu desprendimento das coisas mundanas.
James Franco - também produtor e cada vez mais presente entre a produção "independente" actual que se torna saturante - a fazer mais uma desmonstração da sua intelectualidade numa continuação menor do seu Allen Ginsberg em Howl.
Jessica Chastain como dona de casa americana às voltas com um filho à procura de um lugar num mundo de pais ausentes e austeros.
Com Chastain a desconfortável sensação de repetição piora pois os realizadores assumem uma herança fílmica directa a Terrence Malick (limitada a The Tree of Life), numa contemplação poética da realidade.
Tal lirismo é justificado dado tratar-se de um trabalho com base na poesia de C. K. Williams que agrega muito do que é a vida quotidiana, mas os filtros de cor, o envelhecimento da imagem ou a delonga em pormenores (insignificantes) denotam uma indulgência criativa nada prometedora para trabalhos futuros - e nada agradável no actual.
Alguns momentos de beleza elevam-se sempre no seio do filme, sobretudo quando este se liberta da declamação dos poemas e aproveita as narrativas (de vida) que os compõem para estruturar o filme.
Momentos são breves e escassos no que não passa de um exercício de ilustração que deixa claro que funcionaria melhor como conjunto de pequenos segmentos mais limitados mas também mais definidos.
Os pedaços de poemas seleccionados não se combinam - ou não são estes os realizadores certos para o tentarem - num fôlego que sustente uma longa-metragem em jeito de biopic poético.
A exasperação toma conta do público ao fim de pouco, sobrando-lhe apenas o interesse pela beleza das palavras lidas.
A essas não lhes fazia falta as imagens no ecrã pois elas mesmas as transmitem com mais intensidade.




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