domingo, 22 de março de 2015

"Togetherness": O distanciamento da proximidade

Por Joaquim da Silva.

Nunca a vida foi tão difícil.

Paradoxalmente ao esperado, quanto mais avançamos, parece que mais obstáculos aparecem. Togetherness é a história de quatro adultos, com mais de 30 anos, ligados pela ligeireza com que procuram arrumar as suas cabeças. Brett (Mark Duplass) e Michelle (Melanie Lynskey), um casal com dois filhos, que luta pelo reencontro da chama que já não arde e que os manteria juntos. Tina (Amanda Peet), a irmã de Michelle, sem futuro, que salta de relacionamento em relacionamento e de emprego em emprego na esperança de encontrar o talento que a estabilizará. E Alex (Steve Zissis), o melhor amigo - actor cronicamente desempregado - de Brett, que se vê despejado e obrigado a viver no seu sofá. 

Uma história ao estilo Friends, que narra a luta pela sanidade mental e pelo sucesso de um grupo de adultos, no entanto, com uma nuance que a diferencia de muito do que já se tem feito: é plausível. É fácil de acreditar. Quase todos nós já partilhamos das emoções de Brett, que se sente frustrado profissionalmente e se sente a perder o controlo do seu casamento. Ou de Michelle, cansada de ser uma mãe a tempo inteiro que só quer sentir-se jovem, viva e resplandecente de novo. Tina e Alex fornecem o apoio à narrativa do casal, dando um alívio cómico às situações, pelas suas personalidades mais livres e desinibidas. Aliás, Tina é o epíteto da desinibição.

A aproximação é inevitável. Para além do laço do matrimónio, surgem o laço sanguíneo e o laço da amizade, que acaba por ser de todos o mais forte: a capacidade do ser humano em sacrificar-se pela amizade a outro, sendo essa capacidade personificada ao máximo por Alex, seja em relação a Brett, como a Tina (note-se que se verifica uma aproximação romântica, semi-correspondida neste último exemplo). Dos episódios já exibidos, é possível perceber que existe uma linha de pensamento comum a Mark Duplass e Jay Duplass, que permite reconhecer em Togetherness um dos mais fortes e positivos traços da série Transparent (Jay Duplass é Josh, o filho do meio): o realismo e o respeito pela condição. A acção, em ambas as séries, desenrola-se de uma forma tão natural e ligeira, que apesar de tratar de sentimentos e relações humanas dá ao espectador algo tão desesperadamente necessário neste mundo frenético - o tempo. Tempo de viver. Tempo de sorrir. Tempo de perceber que aquelas pessoas, aquele texto, aquele mundo, é tão deles como nosso. 

Aquelas frases podem e possivelmente já foram ditas, sentidas, pensadas, por cada um e por todos nós. A peripécia da tenacidade do jogo da lata, a disputa intergeracional, o regresso à infância, o choro, o riso, o incómodo, o embaraço. Quem nunca sentiu? Por tudo isto, Togetherness é um must-see. E leia-se "ver" no sentido mais abrangente. Sentir, pensar, conhecer, aprender.

Porque Togetherness ensina que não é preciso estar perto para estar próximo, mas é preciso muito ser muito próximo para conseguir viver perto.


P.S.: Melanie Lynskey descola-se indubitavelmente de Rose (Two and a Half Men). É a prova mais que provada que uma atriz, digna de ser chamada atriz, pode desempenhar um mesmo papel durante anos e mesmo assim conseguir desempenhar outros com perfeição. Choose a job you love, and you'll never have to work a day in your life.

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